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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NATAL TEM CHEIRO...


Os meses são diferentes entre si. O clima, a vegetação, os animais, a força da natureza, enfim, dão aos meses uma aura peculiar, tornando-os magicamente bem definidos em relação ao ano.

Sou de fevereiro. Amo dezembro. Talvez dezembro, porque é o mês do Natal. Sempre tive pelo natal uma atração mística, em face da formação religiosa, bem ingênua, que meus pais me transmitiram. O menino Jesus era, naqueles dias, um alento, uma esperança tão doce, que transformava tímida árvore de natal improvisada por minha irmã mais velha em monumento grandioso e iluminado, em atenção especial ao nascimento do Divino.

Natal tem cheiro. Um cheiro agridoce que vem de dezembro. Da prístina época da minha infância. Tem cheiro das árvores, das frutas. Até o ar tem cheiro também em dezembro. Do sol, nascem os raios mais intensos que tão bem tipificam o mês de Jesus, a Luz do Mundo.

Estes aromas naturais marcaram definitivamente os meus dias, e, hoje, apesar de mais idade, vejo-me jogando bola de gude com meus amigos de tantos dezembros. Férias. Fim de ano. Folga. Folguedo. Fugas...

Aromas artificiais têm muitos. Eles são responsáveis pela visão que tenho atualmente do natal. O Natal, na verdade, para mim, é uma casinha de pobre bem limpinha, pintada, lavada, tendo sobre a mesa biscoito Maria, refrigerante e uma imponente lata de queijo do reino aberta, exalando seu cheiro penetrante e característico. Na sala, Jesus de braços abertos em manjedoura de gesso, e uma vaquinha de presépio ruminando capim. Ah, meus natais de sessenta!
Quando meus pais contratavam os serviços de um pedreiro, para dar uma geral na casa e passar uma demãozinha de tinta, eu sentia a liberdade chegar, porque o Natal estava próximo. A ânsia era tanta que os últimos dias de novembro eu já contava como sendo dezembro, tornando-o de trinta e três ou mais dias. Dezembro deveria ter 365 dias (e seis horas).

O canto do rouxinol se ouve em qualquer mês, mas só tem graça em dezembro. Ser pobre não tem vantagem nenhuma. Todavia, saber ser pobre tem muita. Maçã, uva, figo, noz, champanhe e outros artigos mais, eu via uma vez por ano na casa de amigos ricos e, parte deles, na minha, pelo milagre do Natal. Toda essa isosmia dava à Noite Feliz um sabor inefável, como inefáveis são os desígnios de Deus.

Os Reis Magos são anteriores ao advento de Cristo. Na minha terra, eles vêm depois. E prenunciam o fim do milagre de dezembro. Festa de Reis é abracadabra ao contrário, a magia se esvaindo sem que se nada possa fazer. Festa de Reis, infelizmente, em nossa cultura, é a sexta-feira santa logo em janeiro. É reveillon com o gosto amargo do Calvário. Isto não cheira bem... Natal tem cheiro.

(Mica Guimarães)

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